Assédio bossa-novidade

(SPOILER: contém ironia)

Anunciaram e garantiram que é inútil reclamar dos homens, li esses dias numa poste qualquer de um jornal de bairro. Óbvio que concordei, né.

Porque já há tempos que notei que não há mesmo muito o que fazer pra combatê-los, eles e seus hábitos toscos, e que a gente tem mais é que engolir de olhos fechados todos eles, sem reclamar, sem fugir, sem engasgar.

Sei mais do que ninguém o quanto isso é difícil.

Tipo essa história de assédio, que eu mesma acho um baita saco. Nego falando besteira pra gente no meio da rua enquanto a gente passa. Ali na Vila Madalena, por exemplo, na Vila Olímpia, Itaim, não tem uma noite que eu não saia e um boyzinho gato não peça o meu whatsapp ou me pague uma ração de tequila sem se identificar.

Sem razão.

Aquela Panamericana, logo, anda impraticável. Gente me paquerando da varanda dos restaurantes, ostensivamente fazendo ding-ding com suas buzininhas de cima da bicicleta na ciclovia da Pedroso. Aff.

No Rio, logo, negócio fica ainda pior.

Qualquer caminhadinha minha pelo Leblon e lá vem o Chico Buarque me invocar pra entrar no mar. Outro dia dei um rolê muito limitado por Ipanema e, pá!, virei tema de música do Vinicius com o Jobim. Assim não dá.

Por sorte, não precisei nunca pegar metrô e busão, porque meu pai me deu um coche e uma bike com motor, mas eu tenho certeza de que, se eu andasse lá qualquer dia sem meus seguranças, muito provável que me encoxassem, me apalpassem, me assediassem. E eu não quero isso pra mim, né.

Precisar depois fazer drama no Facebook, me vitimizar perante aos meus amigos, ai, tenho horror a isso.

Porque acho que a gente tem que ser macha nessas horas. De preferência chorar calada e seguir adiante. Sem hashtag, sem textão, numa boa.

Ser mulher suficiente pra, um dia, conseguir chegar a ser varão, porquê disse uma atriz famosa esses dias, numa pilar qualquer, num jornal de bairro.

Dá consolação saber que tem mais gente privilegiada por aí que também pensa porquê eu. E, melhor ainda, que essa gente vai sempre furar seus espaços na mídia pra eu publicar mais pensamentos insensatos e absurdos porquê nascente.

Finalmente, o que seria do feminismo seletivo sem elas? Do meu ponto de vista arcaico, contaminado e pleno de julgamento sem a brecha delas? Que bom que estamos juntas.

Agora, mais que nunca, é que sou elas.

Colaborou Caroline Apple

O Assédio bossa-novidade Blog Bonitinha, mas Ordinária.

Manadeira: Blog Bonitinha, mas Ordinária