Fim dos Tempos

Triste é viver na ignorância

Triste com perdas irreparáveis no meio que escolhi para professar e viver, não consegui me manifestar. Foram muitas e curto espaço de tempo. Há tanto a falar sobre tanto que não haverá espaço e minha mente inquieta não vai parar. Marília, Luiz Carlos, Betty, Yoná, Claudio, Loredo, Elias, Abú, Inezita, Roberto, Suzana, Odete…  quantos mais só neste ano. Parafraseando Claudia Jimenez:  só nos resta agradecer a sorte de ter convivido, crescido, aprendido com eles. Privilégio.

Tão novo quanto os novos se julgam novos hoje.  Isso não tem marcação temporal.

Redundo, sei.  Mas redundo com gosto.  Com o prazer de quem sabe e conhece o que não pode ser explicado mas deve ser repassado. isso redundo, redundo, redundo, redondo, redondo… como é o mundo, como é a vida, como são as relações, como são os amigos estranhos que colecionamos e como pensamos ser o amor por eles. Delícia de ser, gostoso ser assim e estar nessa época. Penso que toda uma vida vivida valeu para chegar até aqui. Cinquentinha delícia que ouvia pops e clicks e tinha que dar tapinhas no braço do toca discos para pular um risco feito por um irmão insensível que ouvia música mas  não via.  Quando nessa época a caixinha de fósforos pode valer quanto pesa como quando era colocada sobre o mesmo braço para que o disco não pulasse?

Redundo, Redundo, redondo, redondo…

Não é saudosismo, é constatação. Não é vantagem, é história. Não é não, é sim pra tudo. Compreendam a importância de estar quase madura na queda do muro de Berlim e no final da guerra fria; no voto apenas aos 25 anos. De assistir Bezerra da Silva preto e branco, chiado e pulando numa TV tão redonda quanto o mundo  lançando “Malando é Malandro, Mané é Mané” que o talentoso e lindo (ó, que binômio perfeito!) Diogo Nogueira nacionalizou. Sim pra tudo. Eu sou sim. Sim para os valores. Quem tem pai dessa época, sabe. Ou deveria saber.  É sim para os apps que amo e uso com toda a perplexidade de minha alma curiosa e ávida por modernidades. Entusiasta do moderno tecnológico. Quem paga a sensação de ver que o que tinha/tem ali naqueles livros de papel mais velhos do que o nascimento de meus pais acontecendo? E da minha turma? E meus JJ Benitez autografados? Roberto Drummond fazendo da morte de Hilda Furacão notícia no século 21.

O Fim da Infância

Arthur C. Clark. Li este livro na década de 80 e me impressiona até hoje a imagem de crianças na praia no silêncio total, bebês nús  cuja comunicação telepática lhe tornava o corpo inútil. Corpo inerte, mente a zil… Quanto será que falta para a estagnação da humanidade? Arthur C. Clark, além de 2001 – Uma Odisséia no Espaço, um clássico do cinema sob a batuta de Stanley Kubrick, só poderia ter vivido no Sri Lanka ou outras terras exóticas da época. E ali morreu, 2008. Meu livro tinha capa azul.  Embora uma de suas frases mais bacanas seja Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia, ele viveu numa época de descobertas tão incrível, mas tão incrível que só estamos o que somos hoje graças à elas.  Que sorte a nossa, bebês dos 1960, 1970.  Os novos estão aí e viveram outras descobertas, obviamente não menos importantes.  Infelizmente desaprenderam a reconhecer os valores e a carregá-los durante sua travessia.  Desdenham as pontes que ligam seus sabores de hoje.  Um dos pecados dessa estagnação humana diante da tecnologia está na certeza de que viver apenas o hoje é o certo, encurtando a vida décadas. Nascidos e usuários dos novos tempos pretendem viver o auge, apenas ele. E por isso têm pressa.  Têm menos tempo para conquistar dinheiro, fama, um lugar apêndice à maioria que nada vê, ouve ou fala. Antes que o mundo acabe,  fato que percebem inevitável.

Pelo Poder. Amor à Família é o suficiente, se tanto.

Amigos perto de sí, fiéis. Amigos para diversão e arte para qualquer parte. Opa. Falei arte? Não…  Nichos cada vez mais individualizados produzem matéria de suas dúvidas. Falo do pop, da grande maioria observada pelo Grande Irmão de Orwell. Não. Amigos que precisam provar e provar e provar que são amigos.  Ao mesmo tempo que o individualismo cresce, aumenta a expectativa de vida do ser humano. Deve ser ruim viver sozinho na velhice.  Hoje se pensa que o poder e dinheiro  suprirá o que for preciso. Hmmm… tenho muitas dúvidas, muitas. Nada me foi mais impactante e gostoso do que os abraços que partilhei, os beijos que dei e as lágrimas que partilhei. E a saudade que sempre levarei comigo.

 

 

Fonte: Carmen Farão