Passarinho quer voar?
Não há nada no mundo mais revigorante que a visão de um rapaz bonito caminhando sua direção. Mesmo que seja um desconhecido, rumando ao infinito e além, mas apenas o simples fato de que, uau, como ele é esbelto e vai passar aqui pertinho, ah, isso já muda o dia e alegra a vida. Mas, espera. O que o rapaz bonito está fazendo?? Não. Diga que não é verdade. Não acredito. Você arruinou tudo, moço. Você descompôs tudo. Você, você, você…
… você botou a mão no seu PIRU. Sim. Você estava fazendo tudo direitinho, sendo você, sendo maravilha, mas não dava para aguentar, né? Você TINHA que cutucar suas partes. Na rua. Em público. Sem pudor.
Ninguém aqui está dizendo que seu passarinho não mereça um carinho. Afagar o seu bichinho é coisa que todo dono faz, eu mesma mimo minha amiguinha todos os dias e não me culpo. Mas, olha, agradar um animalzinho desse tipo é coisa pra acontecer casa.
Compreensível, evidente, que não era esta a espécie de contato que você buscava naquele gesto com que – bora quase gracioso de início – conseguiu aniquilar toda a harmonia mundial um segundo. Mas é importante explicar que, mesmo o mais sutil toque no seu bilau no meio da rua é coisa das mais indelicadas que existem.
Imagino, sim, que às vezes ter algo pendurado no meio das pernas possa ser deveras incômodo. Possa, como já li publicações especializadas, repentina e inoportunamente grudar-se a outras partes do corpo, tornando imperativa uma urgente manobra de ergência.
Só que nem esta é uma boa justificativa. que, veja só, quando há, por exemplo, uma meleca bloqueando sua respiração, você enfia o dedo na narina para brutalmente removê-la, não se importando com o mundo que gira à sua volta? Óbvio que não. Mesma coisa com o fiapo de carne pendurado seu dente, incômodo à beça, mas que só no banheiro, escondido da humanidade, será deposto e devidamente engolido reparação.
Com seu bigulim deveria ser a mesma coisa, e não do jeitinho singelo que você faz, METENDO A MÃO no meio das pernas como se o amanhã não houvesse, como se a rua apenas sua fosse, e como se eu e todo mundo que passa obrigados fôssemos a te ver ajeitando as bolinhas melhor dentro da cueca box.
Ou coçando as coisas, que eu, bem da verdade, não sei exatamente qual a intenção de seu tão sutil gesto – e não me corrija nem me informe, que, juro, não preciso desta informação para seguir a vida.
A única coisa que preciso, reafirmo, é que você pare de mexer aí baixo. Ou, melhor, que mexa só quando ninguém estiver olhando – e, acredite, na rua SEMPRE tem alguém olhando. De modo que, para acarinhar seu pet de maneira anônima e segura fora de casa, o único jeito é se trancar no banheiro sozinho, bonito, no conforto. Como fazem as meninas na hora de ajeitar a calcinha que escorrega lá pra dentro e incomoda.
Espero muito reencontrá-lo na rua, rapaz bonito, pra gente flertar de novo, de maneira extrema e promissora. Só me jure, pelamor, que desta vez manterá as mãos sempre à vista, de preferência segurando, no máximo, o cano brilhante do vagão do metrô.
O Passarinho quer voar? Blog Bonitinha, mas Ordinária.
Fonte: Blog Bonitinha, mas Ordinária