A escolha do brinquedo é outro aspecto importante, afirma a psicomotricista e fisioterapeuta Cristiane Oliveira. Embora, nas balagens, geralmente venham indicadas idades para as quais o mesmo é destinado, devem ser observadas, sobretudo, as possibilidades que a criança terá com aquele objeto, dando preferência aos que incentivem a interatividade.
"Não recomendo aqueles que fazem tudo sozinhos, ou seja, você liga um botão e ele anda, fala e canta. Isso torna os meninos meros espectadores. Nas fases iniciais da primeira infância, por exemplo, a criança precisa muito do movimento, porque ela vai aprender com o corpo. E a tecnologia avançada desses brinquedos acaba fazendo todos esses movimentos por ela", afirma Cristiane.
Os melhores, segundo ela, são aqueles aos quais a meninada possa se entregar totalmente, podendo, inclusive, ser objetos do cotidiano ressignificados.
"Pode ser uma colher de pau que ela encontra na gaveta da mãe, a areia do parquinho, com a qual ela imagina estar fazendo um bolo, ou a grama do jardim, que vira uma comidinha para as bonecas. O importante é que ela use a imaginação para transformar aquele objeto dentro do seu faz de conta".
Tecnologia precoce
Uma questão que preocupa a especialista é a presença cada vez maior de aparelhos eletrônicos – computadores, tablets e smartphones – no cotidiano. quot;Não temos como impedir isso totalmente na nossa geração. A tecnologia nos ajuda, porém é mais saudável que esses aparelhos não sejam introduzidos tão precocemente nem substituam a brincadeira. Chegará um momento que os garotos utilizarão esses aparelhos como uma ferramenta, mas que isso não seja a única e exclusiva fonte de entretenimento", alerta a profissional.
Muitos pais se preocupam ainda com as escolhas e comportamento dos filhos durante a brincadeira, classificando a existência de opções exclusivas para meninos e para meninas. No entanto, a psicomotricista explica que a preferência dos filhos não interfere na formação sexual.
"Esse é um problema de uma cultura machista. Para meninos e meninas, nada é relacionado à sexualidade. O fato de um menino brincar com boneca, por exemplo, não significa que ele vai ter um comportamento feminino no futuro. Ele poderá, inclusive, estar desenvolvendo, de alguma forma, a maneira como lidar com um bebê, o que pode ter reflexos futuramente, quando ele tiver a própria família. À medida que crescem, vão direcionando os interesses para as atividades que mais gostam", coloca.
Vantagens no futuro
Os benefícios dessa prática são sentidos com o tempo. Quando se divertem com liberdade, dentre os diversos aspectos, é possível trabalhar nos meninos e meninas a criatividade, a socialização e a resolução de conflitos. quot;Eles começam a desenvolver a noção de respeito ao próximo, pois precisam esperar a vez de brincar e compartilhar as coisas. Além disso, ela constrói toda uma realidade com a sua imaginação", diz.
A prática na infância funciona ainda como um escape de crianças que vivem situações não muito agradáveis, vulnerabilidade social, por exemplo.
"Quem está inserido uma realidade difícil consegue fantasiar por meio das atividades lúdicas e, com a ajuda da fantasia, remodelar uma situação mais saudável. Isso faz com que ela tenha, internamente, recursos para superar aquela situação difícil".
Na avaliação de Cristiane Oliveira, sob todos os aspectos, tanto ocional, quanto corporal, a brincadeira sempre será essencial na vida de uma criança.
Diversão entre a família é o ideal
"Minha filha Helena brinca de boneca, casinha e panelinha. Ela gosta de companhia, mas não tem problema se for sozinha. Costuma brincar com o irmão Benjamin, 5 anos. Às vezes brigam, mas voltam a se divertir juntos. Eu não restrinjo nem diferencio as brincadeiras, se são de menino ou de menina. A escolha é natural de cada um", comenta Juliana Meireles.
Amiga de Helena, Sophie também tem muita energia. quot;Ela brinca nos horários que está casa, porque ainda não tem atividades além da escola. Nós estabelecemos as regras, principalmente de convivência, pois ela tem mais dois irmãos, Eduardo, 11, e Henrique, 9. Está na fase da casinha e panelinha. Acho minha filha muito ativa", conta Denise Miyake.
Já Malu é filha da fisioterapeuta e psicomotricista Cristiane Oliveira, que vivencia dentro de casa a relação da brincadeira livre com o desenvolvimento da filha. Para Cristiane, é essencial que haja uma participação ativa da família. quot;Cada criança possui, de acordo com a idade, maturidades motora e ocional. A partir daí, as formas de entretenimento vão sendo modificadas, pois a cada etapa existe um desejo diferente na hora de brincar".
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Fonte: Vida

